terça-feira, junho 2

Brisa Aguda




Tão forte e tão cortante, o vento perpassava seu rosto com a mesma intensidade que a dor se expandia em sua alma. Perder, ela admitia, não era necessariamente uma vocação humana, em especial das humanas. Construir castelos levara tanto tempo, embora considerasse estes os melhores tempos que alguém podia viver. Queria ser menos desastrada, para não tropeçar de sua torre e chegar ao chão. Queria ser mais desastrada para precisar de uma mão com os pés ainda suspensos...
O casaco sobre a pele não a protegia do frio, assim como seus agasalhos mais racionais não a protegeram daquela ausência. Era um buraco. Não tinha cor, só o vazio. Não conseguira medir proporções, ou simplesmente preferira não as mensurar. Tudo que se lembrava da vida estava resumido a esta ex-fortaleza, se era sentimento ela não sabia dizer, mas o concreto era que ela sentia com todos os sentidos de sua natureza.
Agora ela admirava o algodão do céu, queria tocar uma nuvem, dormir sobre uma delas pra não mais acordar. Exagero. Tinham dito a ela que não era causa de morte. Pouco importava. Seja por perder ou por querer, o descompasso era tão grande que não podia retomar a melodia. Perdera o ritmo, perdera motivos, simplesmente perdera...
O vento, agora virara brisa, não deixara a frieza, mas trazia suavidade. A dor atingia os estágios agudos com soluços ininterruptos afogado por lágrimas que eram a sua única fonte de calor. Como tinha saudade do calor, daria o mundo ou pelo menos o seu mundo por um segundo de sua chama. Não podia chamar mais de sua...
A gota era gelada. O vento mudara de tom. Não era somente frieza, agora também tinha forma. Vinha de outro lugar, provinha do mar. Não era mais brisa passageira, sem sentido e perdida, era vaga ainda. O vagar do mundo das possibilidades, tão infinitas quanto as gotículas daquele oceano. A brisa aguda trazia ventos ainda mais altos. Na frieza ela se lembrara do calor. Não tratava-se mais da chama perdida, o coração possuía a chama que arde mas nunca se consumiria dentro de si mesma. ESPERANÇA. Perder não era uma coisa humana, muito menos a força que se alojava na sua alma.
As ruínas de seus sonhos, Ele guardava com carinho. Planejara ser arquiteto, mas ela não lho permitira. Mas como consertos vigoravam entre suas virtudes, recolhe os cristais quebrados. Não, ele não quer reconstruir o mesmo vaso de cristal. Sim, ele poderia fazê-lo. Mas só tem Graça melhorar...
Perder não era humano porque não sabem lidar com as brisas tão agudas que ela proporciona. Ela prefere agora entrar no ritmo do Maestro, suas composições são mais belas, seus tons mais graves.


PS: Não sou contista. Portanto, o que leêm é uma experência. Pode e deve ser julgada como tal!

3 comentários:

  1. Menina! Seu texto é maravilhoso!!
    Continue assim, tocando a alma da gente com as palavras!
    Beijos!

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  2. "A gota era gelada. O vento mudara de tom. Não era só gelado, agora também tinha forma." Troca o segundo gelado, por outra palavra ;)

    Eu adorei! O sofriento abstrato da alma. A metáfora da torre. Muito bom =)
    E eu acho que é um conto sim senhora!

    Eu não tinha te adicionado ainda, por isso não via as suas atualizações! Vou resolver isso!

    beijos amega!

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  3. ameii , mandou super bem!!!^^

    Liliane Milanez

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