quinta-feira, setembro 2

Viveres




Além do conhecido abre o desconforto de estar em um lugar que não é seu. Em teu íntimo a certeza de que outro lugar o espera, em seu peito a dúvida simplesmente a esperar. Quando ela abre os olhos, sabe que é efêmera, mas quando os fecha ela sente que pode ser eterna.

Liana menina que brinca que sonha. Menina que sabe, inventa e cria. Cria seu mundo, cria tantos outros também, só não cria que alguém por ela vem...

Liana testa sabores, mas não encontra qual seja de acordo com seu paladar, ainda que o chefe dos chefes quis oferecer-lhe uma delícia suprema, mas ela fez que preferia os doces bonitos que ela podia ver na padaria. Mal sabia ela que eles estragavam tão rápido e que deixavam as meninas enjoadas. Existiam delícias que ela recusara a provar porque suas amigas plebéias disseram que estragavam os dentes.

Liana era uma princesa refinada mas brinca na lama, arruína sempre seus enfeites e adornos tão caros, esquece-se que é filha do Rei. Seus cabelos tão bonitos andam sempre desalinhados, assim como o das outras meninas princesas que fingem-se plebéias. Os dedinhos sujos e unhas encardidas, o vestidinho caro repleto de manchas, tudo parece perfeitamente normal para Liana.

Um dia, Liana cansa da normalidade, percebe que seu mundo é sujo e desalinhado, ela gosta de seu mundo, mas não se sente mais parte dele.

...

Vazio

....

Com o coração disparado. Liana corre!

Tropeça

E levanta. Chega na casa do Rei. Chega na casa do Pai. Recebe um vestido novo, tem seus cabelos penteados, seus dedinhos bem limpos e... um coração inteiro. Liana sabia que era divertido brincar de lama e fazer castelos com ela. Mas muito melhor viver em castelos de verdade na companhia daquele que a leva nos braços para seu próprio mundo.